O ótimo livro Reinventando Organizações de Frederic Laloux traz um tipo de organização mais contemporânea e adequada aos imensos desafios de um mundo mutante que clama por maior adaptabilidade, flexibilidade, autonomia. Essas organizações, para o autor, são ecossistemas autônomos que possuem em si uma capacidade instalada de lidar com situações complexas na medida em que estas ocorrem. Para conceber tais culturas organizacionais, Laloux recorreu ao poderoso estudo dos níveis de consciência, concepção que define o atuar humano a partir de níveis, que vão se ampliando em forma de espiral. Quanto maior o nível de consciência, mais recursos de reinvenção e adaptabilidade um indivíduo ou cultura terá. Chris Cowan e Don Beck atribuíram cores para cada nível de consciência e foi nessa fonte que Laloux foi beber para tratar dos níveis em uma organização. E inspirado nessa espiral colorida, ele atribui à cor Teal – um azul esverdeado, sem tradução clara em português – o nível da citada empresa adaptativa, orgânica, autônoma, mais preparada para os desafios do século XXI.
Com o sucesso do livro recém traduzido ao português, estamos presenciando uma febre de autores, consultores, profissionais em geral, que pregam a importância de acelerar a evolução das empresas ao Teal através de estruturas mais horizontais, sem líderes formais, nem grandes hierarquias etc. O problema é que essa mensagem apaixonada traz um perigoso reducionismo: não se muda o nível de consciência em uma empresa trabalhando somente suas estruturas, como se fosse uma questão simplesmente “metodológica”. É preciso atuar nas mentes e corações, trabalhar os modelos mentais dos indivíduos, sua forma de pensar e atuar no mundo, e isso leva tempo, é um processo adaptativo, lento e gradual.
É possível e necessário reforçar esse trabalho individual com uma mudança simultânea de estrutura, buscando formar um ambiente mais ecossistêmico e fluido, mas considerar somente o foco processual e estrutural como uma forma de conceber organizações Teal, é um grave erro, que está sendo propagado por aí sem muita fidelidade teórica e prática aos estudos sobre a consciência.
A ideia de multiplicar organizações Teal é muito interessante e motivante, já que estaremos provocando uma verdadeira transformação no mundo organizacional, que ainda insiste em modelos mecânicos e hierárquicos em pleno século XXI. Não obstante, é importante ter presente que esta é uma árdua missão que envolve um trabalho sério com os indivíduos para que evoluam na espiral da consciência. A partir do momento em que tivermos uma massa crítica de pessoas em um nível Teal, aí podemos pensar em uma cultura e organização Teal.
Mas no Brasil temos uma preferência por fórmulas fáceis, por manuais com seus “cinco passos”, adoramos processos simples que nos prometem levar a resultados fantásticos. É por isso que está em voga o convite para as organizações se tornarem Teal por vias simplistas, de curto prazo. Assim o tema pega mais, atrai, e “vende”.
Já passou da hora de entendermos que o fenômeno adaptativo nas empresas tem um tempo de maturação, já que o ser humano é um ser complexo, que muda em um movimento gradual, lento, não linear. Se captarmos de verdade essa ideia, trabalharemos para transformar as organizações com um enfoque mais adequado, buscaremos métodos e sistemas centrados no fenômeno evolutivo dos indivíduos e culturas, e os resultados serão mais contundentes e perenes. Quão raros são os exemplos de trabalhos nessa linha!
Estaremos dispostos a percorrer essa trilha mais sinuosa e longa, ou continuaremos insistindo em soluções mágicas que viralizam e prometem o paraíso em algumas semanas?