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O MUNDO DE SOPHIA

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O Mundo de Sofia é um extraordinário livro de 1991, que rápido se tornou um best seller, conquista justa para uma obra que ousou explicar a filosofia ocidental através de um romance -thriller. Seu autor, Jostein Gaarder, propiciou aos seus milhares de leitores a oportunidade de entender a filosofia por um caminho mais palatável. Philo Sophia significa Amor à Sabedoria. O livro traz a beleza do pensamento ocidental clássico, que celebrou a admiração ao que é universal, perene, e inseriu o ser humano nessa jornada rumo a uma vida mais plena e significativa. 

A era que está substituindo a pós modernidade com seu fascínio pela alta tecnologia – esse capítulo da história humana conhecida  como a 4ª revolução industrial, entre outros títulos – traz uma outra Sophia, a Robô com uma linda face de mulher. Construído como inteligência artificial, este humanóide já deu entrevista no programa 60 Minutes, a Charlie Rose, interagindo com o entrevistador como se fosse um convidado qualquer seu. Sophia foi além, ganhou recentemente a cidadania da Arábia Saudita. Até então um cidadão era considerado um individuo humano; não mais. Agora compartilharemos esse título com Robôs. 

Pela primeira vez na história da espécie humana – que desde sempre criou a tecnologia para melhor viver – o artefato não será mais um instrumento, mas uma réplica artificial do Homem. Os algoritmos e a inteligência artificial já vão deixando de ser recursos e se transformam em alternativas ao ser humano, um “par” em muitos casos mais poderoso, que joga xadrez, escreve roteiros de novelas, diagnostica doenças e trata enfermos, dá entrevistas, namora…

O arquétipo de Adão e Eva, que foram tentados a tonarem-se Deuses, pela serpente, chega em cena com ares de ficção científica. O Homem criou outro ser, sem recorrer a Deus, uma criação sem vida, mas com uma inteligência quase infinita, para, pela primeira vez, substituir a espécie Sapiens. É o que alguns chamam de transhumanismo, o que eu gosto de citar como “era pós Sapiens”. Apesar das vozes dos novos “deuses” da tecnologia defenderem que tudo isso é para o ser humano viver melhor, não há qualquer evidência de que este seja o objetivo primário dos divinos nerds que dominam o mundo de hoje. Ao contrário, Sophia terá sua inteligência cada vez mais desenvolvida, até igualar ou superar a do ser humano.  Quando David Hanson, o criador da bonita Robô, lhe perguntou em uma entrevista, se queria destruir os humanos – torcendo para que a resposta fosse negativa – ironicamente sua criatura respondeu “ok, eu destruirei os humanos”.  

A Sophia da Arábia torna o livro de Gaarden obsoleto: para que falar de sabedoria, de felicidade, de abertura ao universal, se podemos conviver e sermos surpreendidos por robôs? Estamos diante de outra Sophia, não aquela que incorpora a sabedoria perene de milhares de anos de tradições, estudos e descobertas, mas aquela que vem para dizer-nos o que devemos fazer, enquanto tivermos alguma função nesse mundo. E como diz Harari em seu lindo livro Homo Deus, “é melhor que compreendamos o que está acontecendo e tenhamos uma opinião a respeito, antes que isso tenha opinião sobre nós”. Enquanto parecemos uma criança que acaba de montar um complexo Lego pela primeira vez, vibramos com essa nossa criação e caminhamos eufóricos rumo à irrelevância. Que estranha essa espécie que parece ter pouco de Sapiens

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