Há mais de um século a humanidade vive movida por um motor que sempre esteve em aceleração. A partir da Revolução Industrial o ser humano entendeu que poderia produzir em grande escala, e que era possível gerar um mercado tão grande ou maior que sua capacidade de produção. O pós guerra só veio a incrementar essa energia produtora que nascia no final do século XIX. A nova ordem mundial estava instalada e o motor propulsor consolidado: a Economia, essa ciência e prática que, concebida como um ente com regras e fins próprios, chegou a ser pensada como o grande trampolim da comunidade humana para seu desenvolvimento e crescimento.
Esse motor foi construído sobre algumas bases, como autonomia, propriedade privada, acúmulo, maximização de resultados, lucro, consumo, riqueza financeira, livre mercado. Essa máquina vem funcionando assim por décadas e décadas e, apesar de questionada por alguns, foi consolidada pela grande maioria dos seus beneficiários, ao menos no chamado mundo “ocidental”. Simplesmente funcionava assim. Mas ao final do século passado e a partir da virada do milênio, com a ampliação da consciência dos indivíduos e sociedades, com o aumento do fluxo de informação, o aprimoramento da tecnologia e o surgimento das redes virtuais, a humanidade começou a perceber as sombras e pontos cegos desse sistema que por muito tempo parecia quase “intocável”. Saltaram mais aos olhos as diferenças sociais, a exclusão de milhares de seres humanos, e o amplo e onipresente impacto ambiental, e com esse estupor, começou-se a questionar mais e mais um modelo que pretendia ser “o ideal”.
Em 2008 vivemos uma grave crise global, e tal ruptura gerou uma grande expectativa de que chegara a hora de mudar radicalmente as estruturas, os modelos mentais, as formas de operar, mas para a surpresa dos mais atentos, as bases do sistema econômico mundial pareceram seguir iguais. Os mecanismos do mercado financeiro continuaram com seu peso na economia, muitos dos altos executivos (inclusive os especuladores), continuaram ganhando bônus astronômicos, as estruturas organizacionais permaneceram piramidais, as diferenças salariais enormes, as escolas de gestão e negócios mantiveram o discurso que o prioritário é maximizar resultados e ser o primeiro lugar sempre, o consumismo continuou sendo incentivado em todos os níveis. A pergunta que surge quase imediatamente é por que?
Algumas possíveis respostas podem ser: porque transformações significativas são lentas, porque os sistemas de poder resistem a abandonar o status quo conquistado etc. Seja como for, é preocupante perceber que, apesar de tantos sinais, a história está passando e a reação necessária parece não acompanhar. E ao mesmo tempo vemos um efeito anestesiante ao observar empresas usando linguagens novas, na onda da sustentabilidade e da ética, quando suas práticas ainda são extremamente fieis à economia “clássica” praticada ao longo de tanto tempo. Esse cinismo coletivo quase inconsciente (ou não) pode nos trazer uma conta muito cara num futuro próximo.
É vital uma transformação dessa realidade que ajudamos a criar. E o primeiro passo é fazer perguntas que ao longo de muito tempo nem cogitamos pensar: Economia para quê? Crescimento para quê? Atuamos hipnotizados pela sedução da produção e do consumo e pelo engano de pensar que os recursos são infinitos e que não há limite para o crescimento econômico. E hoje nos deparamos com um dilema essencial: é possível crescer sem exclusão social e sem impacto ambiental? Se quisermos prosperar como espécie a resposta tem que ser “sim, é possível!” Mas para gerir essa polaridade o único caminho é a colaboração, a sinergia, a conectividade e solidariedade. Pensar e agir para o desenvolvimento, para a riqueza e o crescimento global, mas com ética, sustentabilidade e humanismo. É um salto além da produção e além do verde, materializado em uma nova consciência histórica que incorpora o ganha ganha para cada decisão individual e coletiva. É a passagem de uma Economia centrada no ego, no poder e no acúmulo, para uma Economia colaborativa, empática, e sinérgica. É a oportunidade de unir liberdade e responsabilidade, acreditando que essa reconciliação é possível.
Chegamos ao momento histórico de um Novo Renascimento. Assim como aquela passagem clássica da história reconfigurou o mundo, transgredindo uma mentalidade dogmática e feudal com uma proposta centrada no ser humano e na razão, na ciência e na técnica, nosso presente pede uma nova transgressão. O desafio de hoje será o de transcender os limites da pura razão, da ciência e técnica estrita como fim em si mesma, do humano como ser material, centrado na aparência e no “ter”. Esse é o momento de revitalizar o humano, trazendo conectividade, a relação, a integração planetária. Além do indivíduo está o Ser que também é coletivo, parte essencial do grupo humano e do Planeta Terra. Esse é o sopro vital que o mundo de hoje nos pede.
Indivíduos, coletividades e a sociedade em geral deverão aprender a se articular para viabilizar esse Novo Renascimento. E as organizações, nesse contexto, se configuram como um valioso espaço aonde essa transformação poderá se concretizar. Elas representam um importante âmbito aonde o ser humano poderá se reencontrar como protagonista de uma Nova Economia e consequentemente, de uma Nova Humanidade. Hoje sabemos que os espaços de trabalho trazem muitas contradições, como priorização de resultados com ambientes de pouco engajamento ou estratégias que não consideram a ética social e ambiental. As Organizações com Alma são aquelas que conseguem aliar produtividade e bem comum, que integram o respeito, cuidado e solidariedade, com resultados, lucro e crescimento. São essas Novas Organizações que contribuirão para a perpetuidade de nossa espécie e de nosso planeta. Elas serão o testemunho vivo de que é possível ser rentável com sustentabilidade e humanidade.
A área de Gestão de Pessoas na Organização com Alma será o grande agente propiciador de vitalidade, o artífice e provocador de uma nova mentalidade e novas práticas. Esse é o momento histórico para que os profissionais que atuam com pessoas assumam com coragem uma nova identidade, liderando uma transformação que quer trazer mais humanismo às relações de trabalho, buscando perenidade para o planeta. É preciso repensar as estruturas e relações organizacionais, propondo novas ações, métodos e aplicações, inserindo valores como colaboração, respeito, inclusão, sinergia e prosperidade. O profissional de Gestão de Pessoas deverá mostrar que o Negócio com Alma é melhor para os indivíduos, as organizações, e para a sociedade em geral. Esse é um desafio quase heroico, mas estimulante, para profissionais que escolheram ser protagonistas de uma era mais justa, humana e próspera.