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Anitta mostrou que não só tem boa voz e sabe usar o corpo para potencializar sua imagem e carreira

Anitta mostrou que não só tem boa voz e sabe usar o corpo para potencializar sua imagem e carreira. Ela revelou-se uma mestra em truques. Recentemente seu Hit “Envolver” chegou ao primeiro lugar no Top GLobal do Spotify com mais de 6 milhões de execuções.
Mas esse estrondoso resultado, infelizmente, não foi consequência da relação direta (e justa) entre a música e a aprovação de um enorme número de ouvintes, Foi fruto da engenharia ardilosa de um grupo hábil de fãs estimulados pela artista. Ela postou no Twiter uma explicação de como criar mais de uma conta gerando várias playlists para tocar “Envolver” inúmeras vezes. Assim ela recrutou um exército que, obediente, foi bem competente em burlar os algoritmos do Spotify e levar a estrela ao topo.
Isso traz algumas questões importantes. A primeira é de cunho ético. Anitta segue bem à risca a expressão que “os fins justificam os meios”, uma filosofia de vida que vem de um utilitarismo levado à máxima potência. Não importa como ela tornou sua música a Top 1 do Spotify, o que vale é que ela conseguiu e isso vai gerar muito marketing (da pior qualidade) e dividendos para sua já bilionária carreira. “Se não quer brincar, não desce pro play”.
O outro aspecto para analisar é a relação da tecnologia com a transparência e verdade. A tecnologia é neutra, e como tal é um instrumento que pode ser usada para coisas maravilhosas (como de fato acontecce!) ou para criar mundos fictícios. Estamos normalizando as “realidades” inventadas, fabricadas, que dissolvem a fronteira entre verdade e falsidade. Até o Spotify, sendo uma empresa gigante, de excelência, não é capaz de detectar uma manipulação deste quilate, com implicações nefastas para o mundo da música.
Por último, penso na reação das pessoas que virão a saber desta noticia. Será que haverá uma consternação? Me inclino a pensar que não, que está tudo tão “líquido” como Bauman cunhou, que esse fato passará como mais um no meio de tantas bizarrices que são vistas como normais.
Hoje vivemos num mundo de likes e influencers, de listas de “tops tudo” onde o que importa é a contabilidade que multiplica os valores digitais. O influencer comprou seguidores e likes? Não importa. Ele tem milhões de pessoas que o seguem no Insta e mais de 50 mil curtem cada post que faz…
O mundo ficou estranho demais, perigosamente estranho. E o Sapiens cada vez mais encurralado neste beco digital de regras próprias que o planeta se tornou.

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